Igreja Católica na Idade Média
Igreja Católica na Idade Média#
O jogo dos tronos#
E também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.
Mateus 16:18,19
No ano 800 EC, Carlos Magno recebia do Papa Leão III a coroa de imperador de Roma. Essa coroação não foi um favor, foi uma mensagem. Com a coroa do imperador em mãos, o Papa deixou de apenas simbolizar o poder divino, e passou a controlar este poder. Daquele dia em diante, a legitimidade de qualquer imperador do Sacro Império Romano não viria de sua espada ou de seu sangue, mas sim de uma bênção papal. O Papa era o grande legitimador, a autoridade máxima que podia chancelar (ou negar) o direito de um monarca de governar um dos maiores impérios da história da Europa.
Menos de trezentos anos depois, em 1077 EC, veio o auge da hegemonia da Igreja Católica sobre o Sacro Império Romano-Germânico. O imperador Henrique IV ousou desafiar um decreto papal. A resposta da Igreja Católica foi devastadora para imperador: A excomunhão. Mais do que um castigo espiritual, a excomunhão se transformou num golpe político poderoso e efetivo. A mancha da excomunhão removia toda a legitimidade de Henrique para governar, e seus próprios súditos, temendo a ira divina, se rebelaram. Humilhado e sem alternativas, o outrora poderoso imperador não teve escolha: Viajou para Canossa, na Itália, para implorar perdão ao Papa Gregório VII. Ele ficou de joelhos, por três dias, exposto ao frio da neve, num espetáculo que mostrou que o Papa era mais poderoso que o imperador.
No início do século XIII, o Sacro Império Romano estava mergulhado em uma guerra civil entre dois candidatos ao trono: Filipe de Suábia e Otão de Brunsvique. Em 1201, o Papa Inocêncio III interveio, declarando-se o juiz supremo com autoridade divina para escolher o imperador. Ele rejeitou Filipe e apoiou Otão, alegando que o trono imperial, na verdade, pertencia à Igreja Católica, que o “emprestava” ao monarca. Essa declaração consolidou a ideia de que o Papa não era apenas um legitimador, mas o árbitro final e supremo, com o poder de decidir quem era digno de governar.
O poder da Igreja Católica não estava em exércitos, mas sim na capacidade de virar a mesa e deslegitimar um império inteiro com uma única palavra.
A espada católica#
Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.
Mateus 10:34
Em 1095 EC, o papa Urbano II convocou o que seria conhecido como a Primeira Cruzada católica. Esta Cruzada foi uma longa expedição militar para libertar Jerusalém do domínio muçulmano. Como essa expedição militar tinha caráter religioso, o Papa prometeu que quem lutasse na cruzada teria seus pecados perdoados. O apelo do Papa foi um grande sucesso e muitos católicos, tanto cavaleiros quanto componeses, lutaram essa Guerra Santa. A Igreja Católica já tinha autoridade política, e o sucesso da Primeira Cruzada deu a ela a última coisa que faltava para efetivamente dominar a Europa inteira: Um poder militar muito forte. Ao longo dos anos seguintes, a Igreja voltaria a usar esse poder contra inimigos políticos dentro do continente europeu.
O povo cátaro era um movimento religioso que dominava o sul da França na idade média. Esse movimento era considerado herege pela Igreja Católica, uma vez que rejeitavam muitos dogmas católicos e, inclusive, cultuavam mais de uma divindade. Em 1209 EC, o Papa Inocêncio III convocou a Cruzada contra os cátaros. O rei francês da época, Felipe II, tinha interesse em reconquistar o território dominado pelos cátaros e, portanto, permitiu que seus cavaleiros atendessem o chamado do Papa. Essa Guerra Santa durou cerca de vinte anos e resultou na matança generalizada de feudos inteiros. Assim sendo, o genocídio do povo cátaro foi um empreendimento entre o Papa e a monarquia francêsa: A Igreja Católica se livrou dum povo considerado herege, e em troca a coroa francesa ficou com os territórios conquistados.